Frequentemente ouço perguntas sobre funcionários
públicos e na semana passada uma telespectadora do Bom Dia Paraná pediu que eu
falasse um pouco sobre esses profissionais que, infelizmente, muitas vezes
abusam da estabilidade que possuem para viver a bel prazer. Ao receber seu
e-mail, lembrei de um conhecido que, certa vez, contou-me sobre os absurdos que
via seu irmão fazer e dizer, pelo simples fato de ser concursado público e não
precisar se preocupar com sua conduta, pois tinha seu emprego garantido pelo
resto da vida.
Segundo Henrique, Pedro era muito inteligente e, de acordo com ele, sua maneira de encarar seu emprego era extremamente díspar da sua forma de ser no dia-a-dia, o que fazia com que ele não entendesse o irmão. Em casa, com a família, Pedro era super responsável. Participava de tudo que dizia respeito a seus filhos, era um marido exemplar, ajudava financeiramente e com cuidados especiais seus pais, já idosos, e era voluntário, aos finais de semana, num hospital oncológico. Já no trabalho...
Henrique me contou da forma com que o irmão encarava seu trabalho. Pedro não fazia questão de comparecer diariamente em seu local de trabalho, além de descumprir seu horário. Chegava sempre perto do horário do almoço, saía para almoçar e demorava cerca de duas horas para retornar, e, por volta das 17h já se preparava para ir embora.
Frequentemente,
inclusive, conseguia atestados médicos de 4 ou 5 dias para se ausentar e
programar viagens com a família. Nos dias com ponto facultativo, Pedro sempre
faltava e no escritório, era completamente displicente com suas
atividades.
Pedro não fazia muita questão de inovar. Apesar da enorme capacidade de criação, o irmão de Henrique passava a maior parte do tempo executando rotinas antigas, muitas defasadas, e limitava-se a reclamar do que ele considerava inadequado. Ao invés de criar soluções para o que via de errado no escritório, apenas criticava os processos e as formas com que tudo era conduzido. Seu chefe, por sua vez, nada fazia. Apenas aceitava o comportamento de Pedro e acaba agindo de forma muito semelhante ao subordinado.
Certa vez, conversando com Pedro, Henrique questionou o porquê ele não aproveitava sua posição para sugerir melhorias no escritório. Com toda sua capacidade técnica/teórica, ele, certamente, seria capaz de conseguir feitos realmente importantes. A resposta veio seca e desoladora: “se ninguém faz nada lá, por que eu farei?”. E, após uma discussão calorosa sobre os distintos pontos de vista, Henrique deu-se por derrotado, já que não conseguia contra-argumentar o “teimoso e acomodado” irmão.
Segundo Henrique, essa pauta foi motivo de várias discussões nos almoços de domingo da família, o que fazia com que Pedro sempre se sentisse ofendido e saísse desapontado com seus familiares. Porém, nenhum dos parentes concordava com seu jeito, que como pessoa era excelente, mas, como profissional, causava vergonha a todos.
Perguntei a Henrique se ele gostaria que eu conversasse com o irmão que, esperançoso, respondeu-me que isso poderia ser muito bom para Pedro. Ele, por sua vez, ao encontrar-me no escritório dias depois, mostrou-se completamente alheio a tudo que eu dizia. Senti-me, inclusive, incomodado quando ele me “acusou”: “você não sabe a realidade lá dentro. Nunca esteve na nossa pele para saber por que agimos assim ou assado”.
Disse a ele que meu trabalho era lidar diariamente com profissionais que me buscavam para orientá-los sobre empregabilidade, comportamento organizacional, carreira etc. E que isso, certamente, fazia-me capaz de orientar qualquer profissional, principalmente, no que diz respeito a esse tipo de conduta.
Mesmo assim, Pedro foi irredutível. Disse que o máximo que poderia fazer era ser mais presente no escritório, mas que jamais gastaria seu tempo se preocupando com o que ninguém mais se preocupava.
Lamentável, eu diria. Mas, felizmente, sabemos que nem todos os profissionais são como Pedro e é exatamente sobre isso que falarei na próxima terça-feira, na Coluna Talento em Pauta.
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