O som estava alto. As pessoas balançavam seus corpos ao
ritmo da música.
Em um canto do ambiente dois jovens cruzam olhares. Os
olhos do rapaz param e se fixam no olhar um tanto tímido da moça.
A penumbra dificulta uma visão mais precisa de ambos,
mas, naquele instante, os sentimentos falam mais alto.
O rapaz, ainda indeciso e inseguro se aproxima. Começam
uma conversa. Uma conversa onde o que é dito já não é tão importante.
É o amor à primeira vista: Maria se apaixonou por José;
José se apaixonou por Maria.
Nasce um namoro que dois anos depois se transforma em
um casamento.
Essa seria uma típica e linda história de amor se os
fatos se resumissem apenas ao que foi apresentado até aqui…
José é um moço bonito, esportista e, diga-se a verdade,
bastante vaidoso.
Ah, a vaidade, fruto da insegurança e ponto de partida
para o nascimento daquele monstrinho verde chamado ciúme, irmão gêmeo do
monstrinho vermelho chamado inveja.
Maria também é bonita, muito bonita. Talvez mais bonita
do que poderia suportar a insegurança do rapaz!
Nasce, então, junto com o namoro, uma relação
atormentada pelo ciúme.Por isso a mãe de Maria não queria o casamento. Várias
vezes ela vira a filha chorando devido às repetidas brigas com o namorado.
Discussões sem sentido, que não se sustentariam frente
a uma pequena dose de racionalidade. Mas quem disse que a razão tem voz diante
da paixão?
Ah, a paixão, esse louco e arrebatador sentimento que,
quando bem direcionado nos leva ao céu, mas que tantas vezes nos deixa tão
cegos a ponto de caminharmos para o mais profundo abismo.
“Calma mãe, o tempo ensina a convivência”, dizia a
moça.
E assim as coisas foram caminhando.
A festa de casamento foi muito bonita. O brilho nos
olhos do jovem casal era contagiante. Porém, a convivência após a festa não
seguiu o caminho dos contos de fadas.
Ao contrário do que pensava Maria, o “mestre tempo” não
foi capaz de tornar a relação mais harmoniosa.
Teria o tempo fracassado nessa história?
Antes, porém, de respondermos a essa questão, vale
ressaltar que essa história romanceada de João e Maria em nada difere das relações
que construímos com um novo trabalho ou uma nova oportunidade profissional.
Quantas pessoas não iniciam uma nova jornada
profissional idealizando o ambiente de trabalho e criando inúmeras expectativas
com as possibilidades de aprendizado e de crescimento, mas, aos poucos, começam
a perceber que as coisas não são tão simples?
A ilusão dá espaço à realidade. A euforia vira
decepção.
Não demora muito para começarem a conviver com o jogo
de vaidades, com as picuinhas, com as intrigas e com a inveja dos menos
competentes.
As inseguranças pessoais criam os conflitos
profissionais e as dificuldades para se construir relações saudáveis e um
espírito de equipe vencedor focado no sucesso de todos.
E quantos gerentes estão vendo o circo pegar fogo e
continuam dando respostas idênticas à resposta da Maria, dizendo que o tempo
ensina a convivência?
A realidade é que o tempo, por si só, não transforma as
relações desgastadas em relações saudáveis. Na verdade, o tempo, normalmente,
só faz as coisas piorarem.
Por que?
Porque não importa quanto tempo passe, as relações só
se transformam quando fazemos as mudanças dentro de nós mesmos.
Se a Maria quer ser feliz no casamento não adianta
esperar que o José simplesmente mude o seu comportamento. Ela precisa dar um
basta na situação que a atormenta.
Daí nasce, naturalmente, a próxima pergunta: Por que
não damos esse basta nas situações conflituosas que nos afligem?
Porque normalmente achamos mais fácil continuar
atribuindo a culpa aos outros do que enfrentarmos as nossas fraquezas e os
nossos medos. Entramos no ciclo vicioso e, sem perceber, tornamo-nos também
protagonistas dos problemas.
Esperando que o tempo conserte as nossas relações,
imaginando que ele vai transformar o outro e nem sequer paramos para ver onde
está a nossa parcela de responsabilidade e o que podemos fazer para mudar a
situação.
Quantas pessoas se orgulham por possuir um enorme ciclo
de relacionamentos, mas não percebem que estão passando pela vida sem se
relacionarem com elas mesmas? Quantas pessoas vivem olhando para tudo e para
todos à sua volta, mas não olham para dentro delas mesmas?
Por que?
Certamente as melhores respostas para essa questão
estão dentro de cada um de nós.
E quanto a José e Maria? Será que a história dos dois
teve um final feliz?
Deixo esse final para que cada um escreva do seu jeito,
da mesma forma como podemos escrever o desfecho mais ou menos feliz de todas as
nossas relações.
Um carinhoso abraço.
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