Quando percebi a boiada vinha em disparada na nossa
direção. Eram cerca de 500 animais correndo ao nosso encontro.
O coração disparou, em um misto de medo, curiosidade e
entusiasmo. Naquele momento, ali, em cima dos cavalos, eu, minha família e os outros
turistas que passavam férias no Pantanal, pudemos ter uma pequena noção do que
é a vida de um boiadeiro. Mas, o momento mais marcante dessa experiência ainda
estava por vir.
Orientados por um pantaneiro, fomos para o campo aberto,
onde poderíamos ver o “estouro da boiada” sem o risco de sermos atropelados. E
foi na chegada a esse campo que vivenciei uma cena incrível, dessas que só a
“Mãe Natureza” é capaz de proporcionar.
No meio do caminho havia um ninho de quero-quero. Ao
perceber a nossa chegada, a mamãe que chocava seus ovos saiu gritando em nossa
direção, marcando a sua presença, como a dizer que ali estavam os seus futuros
filhotes.
Naturalmente, desviamos o caminho, achando “bonitinha” a
atitude da mamãe quero-quero. Mas, ao mesmo tempo, ficamos sensibilizados, pois
em breve a boiada passaria por lá e impiedosamente esmagaria o ninho e os ovos.
Temendo por essa cena triste, uma das moças que estava no
grupo perguntou ao pantaneiro se não havia jeito de desviar a boiada para evitar
o massacre dos pássaros.
Claudinei, um típico descendente de índio, era o nosso
guia nessa cavalgada. Com um olhar sério e seguro, típico de quem conhece o seu
serviço, respondeu com naturalidade:
“Não tem jeito de desviar os bois não, dona. Mas pode
deixar que a natureza sabe o que faz”.
Naquele momento, aquela expressão nos pareceu um tanto
insensível. Mas, em breve iríamos entender a sabedoria do Caboclo…
Ao perceber a chegada da manada, a mamãe quero-quero, do
alto de seus dez centímetros, saiu em disparada na direção dos bois e começou a
gritar com toda a energia.
Ela literalmente enfrentou o macho alfa que liderava o
rebanho com tanto vigor e convicção que o boi não teve outra opção a não ser
mudar o seu caminho. E, juntamente com ele, todo aquele gado tomou outra direção.
O ninho tinha sido preservado, graças à coragem e à
determinação de uma mãe.
Diante da ameaça à sua prole, aquela pequenina ave não
ficou “pensando” no que fazer. Ela simplesmente enfrentou o perigo.
Seu propósito era tão forte e tão firme que fez com que
ela se tornasse maior do que o boi que liderava o bando.
Aquela cena tão simples e tão emocionante me fez refletir
sobre a grandeza das pessoas.
Fiquei pensando em como nos tornamos maiores quando temos
uma causa para defender. Como nos tornamos melhores quando temos um valor pelo
qual vale a pena lutar.
Pensei então nas pessoas que não usam seus potenciais,
que não usam as suas forças, simplesmente porque estão perseguindo ilusões ao
invés de cuidarem de seus valores mais importantes.
Pensei nas muitas pessoas que, agindo como parte de uma
manada sem rumo, parecem não ter uma razão pela qual valha a pena viver, ou morrer.
Ao mesmo tempo, ver aqueles grandes bois mudando o seu
caminho diante de um pequeno pássaro que se fez grande me fez pensar que muitas
vezes agimos como uma boiada que, apesar de grande e forte, não segue o seu
próprio caminho porque teme àqueles que aparentam ser mais poderosos.
Por fim, deixei de lado as reflexões e voltei apenas a
contemplar a cena. Agradecido pela maravilhosa lição aprendida com aquela
enorme e pequenina mamãe quero-quero. E, mais uma vez, maravilhado com a sabedoria
da Mãe Natureza.
Fonte: http://www.sommaonline.com.br/blog/a-licao-da-mamae-quero-quero
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