quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A lição da Mamãe Quero-Quero

Quando percebi a boiada vinha em disparada na nossa direção. Eram cerca de 500 animais correndo ao nosso encontro.

O coração disparou, em um misto de medo, curiosidade e entusiasmo. Naquele momento, ali, em cima dos cavalos, eu, minha família e os outros turistas que passavam férias no Pantanal, pudemos ter uma pequena noção do que é a vida de um boiadeiro. Mas, o momento mais marcante dessa experiência ainda estava por vir.

Orientados por um pantaneiro, fomos para o campo aberto, onde poderíamos ver o “estouro da boiada” sem o risco de sermos atropelados. E foi na chegada a esse campo que vivenciei uma cena incrível, dessas que só a “Mãe Natureza” é capaz de proporcionar.

No meio do caminho havia um ninho de quero-quero. Ao perceber a nossa chegada, a mamãe que chocava seus ovos saiu gritando em nossa direção, marcando a sua presença, como a dizer que ali estavam os seus futuros filhotes.

Naturalmente, desviamos o caminho, achando “bonitinha” a atitude da mamãe quero-quero. Mas, ao mesmo tempo, ficamos sensibilizados, pois em breve a boiada passaria por lá e impiedosamente esmagaria o ninho e os ovos.

Temendo por essa cena triste, uma das moças que estava no grupo perguntou ao pantaneiro se não havia jeito de desviar a boiada para evitar o massacre dos pássaros.

Claudinei, um típico descendente de índio, era o nosso guia nessa cavalgada. Com um olhar sério e seguro, típico de quem conhece o seu serviço, respondeu com naturalidade:

“Não tem jeito de desviar os bois não, dona. Mas pode deixar que a natureza sabe o que faz”.

Naquele momento, aquela expressão nos pareceu um tanto insensível. Mas, em breve iríamos entender a sabedoria do Caboclo…

Ao perceber a chegada da manada, a mamãe quero-quero, do alto de seus dez centímetros, saiu em disparada na direção dos bois e começou a gritar com toda a energia.

Ela literalmente enfrentou o macho alfa que liderava o rebanho com tanto vigor e convicção que o boi não teve outra opção a não ser mudar o seu caminho. E, juntamente com ele, todo aquele gado tomou outra direção.

O ninho tinha sido preservado, graças à coragem e à determinação de uma mãe.

Diante da ameaça à sua prole, aquela pequenina ave não ficou “pensando” no que fazer. Ela simplesmente enfrentou o perigo.

Seu propósito era tão forte e tão firme que fez com que ela se tornasse maior do que o boi que liderava o bando.

Aquela cena tão simples e tão emocionante me fez refletir sobre a grandeza das pessoas.

Fiquei pensando em como nos tornamos maiores quando temos uma causa para defender. Como nos tornamos melhores quando temos um valor pelo qual vale a pena lutar.

Pensei então nas pessoas que não usam seus potenciais, que não usam as suas forças, simplesmente porque estão perseguindo ilusões ao invés de cuidarem de seus valores mais importantes.

Pensei nas muitas pessoas que, agindo como parte de uma manada sem rumo, parecem não ter uma razão pela qual valha a pena viver, ou morrer.

Ao mesmo tempo, ver aqueles grandes bois mudando o seu caminho diante de um pequeno pássaro que se fez grande me fez pensar que muitas vezes agimos como uma boiada que, apesar de grande e forte, não segue o seu próprio caminho porque teme àqueles que aparentam ser mais poderosos.

Por fim, deixei de lado as reflexões e voltei apenas a contemplar a cena. Agradecido pela maravilhosa lição aprendida com aquela enorme e pequenina mamãe quero-quero. E, mais uma vez, maravilhado com a sabedoria da Mãe Natureza.



Fonte: http://www.sommaonline.com.br/blog/a-licao-da-mamae-quero-quero

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