terça-feira, 4 de junho de 2013

"APRENDENDO A AMAR"

Passo muitas horas em meu consultório, ouvindo as pessoas falar de suas vidas amorosas. Isto é surpreendente, num mundo que coloca a razão como a grande regente das atitudes humanas e onde as crianças, logo cedo, aprendem a desenvolver suas capacidades intelectuais, como se somente isso garantisse sua felicidade. Parece-me que os pais e educadores em geral continuam ignorando que o ser humano é muito mais do que seu intelecto: é um ser sensível, com sentimentos, sensibilidade, intuição, espiritualidade.

Aprendemos muitas coisas em nossas vidas: algumas inúteis e outras que servem como guia em nossa jornada no mundo. Mas, em relação ao amor, pouco sabemos e os modelos que temos são muitas vezes tão ignorantes quanto nós. Não é por acaso que temos tantas dificuldades em nossos relacionamentos afetivos e não sabemos amar a nós mesmos.
Contudo, as pessoas continuam buscando formas mais satisfatórias de relacionar-se. O amor continua “em alta”, apesar de vivermos num mundo orientado, a maior parte das vezes, pelo dinheiro, pelo poder, pela competitividade e pela violência.

O ser humano cresce através dos relacionamentos, das trocas que estabelece durante sua vida. Muito do que fazemos tem por objetivo chamar a atenção das outras pessoas. Tanto é verdade que uma criança que não é reconhecida pelas suas boas atitudes fará coisas erradas para receber alguma atenção, mesmo que seja uma bronca de seus pais. As crianças têm a necessidade básica de amor e são capazes de fazer qualquer coisa para recebê-lo.

Como isso acontece? As crianças são extremamente intuitivas e muito cedo percebem quais as reações que suas condutas provocarão em seus pais. Modelam a personalidade, em função da aprovação recebida. Ocorre um verdadeiro espelhamento, onde um reflete a imagem do outro. E os pais, como Narciso, apaixonam-se por sua imagem refletida. Só que essa imagem é uma miragem, pois ali não se encontra a verdadeira essência dessa criança.

Por isso, às vezes, temos dificuldade em aceitar nossos filhos como eles são realmente, mas nosso amor é condicional - enquanto eles corresponderem às nossas expectativas. E as crianças sabem disso e reproduzem aquilo que esperamos delas, por amor.

Assim, o caminho do desenvolvimento humano passa pela superação dessas formas infantis de amor. Para alguns, amor poderá significar agradar muito aos outros, pois foi essa a forma que aprenderam na infância. Muitas mulheres ainda acreditam que o auto-sacrifício é uma expressão de seu amor: passam a vida cuidando do marido e dos filhos, esquecendo-se de si mesmas, presas a uma educação que destinava às mulheres o papel de cuidar de outras pessoas.

Outro exemplo de amor negativo é o caso de mulheres cujos pais eram alcoólatras e que acabam casando-se com homens alcoólatras, para continuarem o papel aprendido na infância, geralmente, o de vítimas da agressão masculina, tanto a paterna quanto do marido.

Também podemos pensar em homens que escolhem como esposas, mulheres dominadoras para prosseguirem submissos, passivos, repetindo um personagem infantil, ou seja, uma criança assustada perante a autoridade da mãe.

Temos, ainda, aqueles que decidiram suprimir seus sentimentos, atuando somente de forma racional, com medo de parecerem fracos. Para estes, sentir é sinal de fraqueza e perdem o contato com sentimentos como o amor, a tristeza, a compaixão.

Assim, entramos numa relação, contaminados por todas as experiências anteriores, inclusive, as vivências infantis que deixaram, num nível não consciente, marcas profundas em nossa personalidade.

O caminho do desenvolvimento pessoal requer uma avaliação de nosso passado, a fim de superarmos antigos traumas e resgatarmos partes importantes de nossa personalidade que foram abandonadas, como a alegria, o prazer, a espontaneidade, a confiança, a fé.

Anamaria Cohen
Psicóloga
Analista Transacional
Condutora do Workshop “Aprendendo a Amar”

Fonte: http://interacaodh.com.br/artigo/Aprendendo-a-Amar/29

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