Como um
indivíduo pode se tornar um líder? E como seus objetivos pessoais são os mesmos
da empresa?
A leitura
do romance épico Musashi de autoria de Eiji Yoshikawa, sobre a vida do mais
famoso samurai japonês do século 17, é uma obra que compõe de forma magistral
os duros estágios pelos quais tem de passar um guerreiro para alcançar a
perfeição técnica, e através do cultivo de princípios do zen-budismo, alçar a
linhagem de maior e mais sábio dos samurais.
"...
Seja como for, não permitirei a mancha em minha honra servindo a um segundo amo
apenas para livrar-me das auguras. Que meus filhos sigam os passos do pai,
honrem seu nome e não o vendam por um prato de comida". Testamento de
um samurai - Miyamoto Musashi.
A época do
samurai Musashi é tão próximo e real para o japonês moderno como o é a
guerra-civil para o norte-americano, ao contrário o estereótipo de "animal
econômico" e de orientação coletiva do japonês moderno, na verdade,
mostrando esses como m grupo de centenas de milhares de samurais, ferozmente
individualistas, autodisciplinados, esteticamente sensíveis e princípios
elevados.
Musashi
viveu no ápice dos samurais, em seu início era somente mais um pequeno selvagem
com prática em esgrima, procurando honras e fama através de combates contra
outros espadachins. Porém, quando é capturado por um monge zen-budista, ficando
três anos confinado numa masmorra, sem outras alternativas, inicia o processo
de reflexões e leituras que o fizeram enxergar um novo sentido para sua vida,
assim como novos usos para sua força e habilidades descomunais, trilhando assim
um caminho de busca pela perfeição espiritual e marcial (YOSHIKAWA, 1999).
Segundo
Covey (2004, p.130), a missão pessoal baseada em princípios corretos torna-se o
mesmo tipo de modelo para o indivíduo. Funcionando como uma constituição
pessoal, uma base para tomadas de decisões importantes, cruciais em sua vida. E
uma base para a tomada de decisões cotidianas, em meio ao turbilhão de circunstâncias
e emoções que afetam sua vida. Ela confere ao indivíduo a mesma força eterna,
nos momentos de mudança.
Ou seja, o
samurai tornou-se líder de sua própria vida quando utilizando dos princípios do
Budismo, escreveu sua própria missão, a busca pela perfeição espiritual e
marcial. Observando atentamente para a missão, notamos que quando o ser adquire
este senso de missão, conquista a essência de sua própria pró-atividade, passa
a comandar ao invés de ser comandado pela vida, através de sua visão (capacidade
de ver a frente ou se concentrar no agora) e em seus valores (certo e errado) o
mesmo dirige sua vida.
Passa a ter
o ponto de partida básico, a partir do qual estabelece metas de curto e longo
prazo, tendo assim a força semelhante a uma constituição baseada em princípios
corretos, para servir eficazmente de padrão de comparação ao uso mais eficaz do
tempo, dos talentos e da energia nesse momento acontece à transição, onde o
guerreiro samurai inicia uma longa jornada de autoaperfoiçamento.
Segundo
Covey (2004, p.160), a liderança pessoal não é uma experiência isolada, ela não
começa e termina só na identificação da missão. Pelo contrário, trata-se de um
processo contínuo de fixação da óptica e dos valores que se encontram a frente,
ter em mente uma boa afirmação (positiva, pessoal, voltada para o presente,
visual e emocional).
Ao analisar
o que de fato o indivíduo ou empresa faz e os seus anseios, identifica
claramente quais são suas metas, as metas fornecem a estrutura e a orientação
precisa para identificar se o indivíduo está dentro ou fora da missão pessoal.
Problemas
acontecem quando o indivíduo ou a empresa não entende sua própria missão,
lutando somente para se tornar mais eficaz na vida é o fato de não pensarem de
modo suficientemente abrangente, perdendo o senso de proporção, o equilíbrio, a
natureza de ter um ambiente pleno e satisfatório, exemplo de descolamento de
missão é o funcionário que é consumido pelas extensas horas extras na empresa,
deixando de lado os relacionamentos sociais, fazendo isso em nome de sucesso
profissional, e perdendo os relacionamentos mais preciosos da vida.
O autor
Covey (2004, p.168), diz que declaração de missão é vital para organizações
bem-sucedidas, desenvolver a missão da organização deveria ter o envolvimento
de todos e de modo significativo - não somente dos altos escalões do
planejamento estratégicos, mas todos. O envolvimento dos colaboradores no
processo vai determinar a qualidade do produto final e se torna um dos fatores
mais importantes para garantir a eficácia da missão.
Ilustremos
o exemplo da empresa IBM que possui três pilares enfatizados desde o
treinamento de um colaborador ou prestador de serviço. Inicialmente a IBM
acompanha o processo de treinamento existente na empresa, onde é ensinado que a
mesma preza três coisas: dignidade do individuo, excelência e dedicação, ou
seja, todo o resto pode mudar: clientes, produtos, processos e até mercado, mas
estes três pilares não mudarão, criando uma espécie de osmose deste
conhecimento que passa de colaborador para colaborador.
Estes
pilares representam o sistema de crenças e valores da IBM, fornecendo uma base
na formação de cultura organizacional, ações de liderança, e a estabilidade
profissional compartilhada por aqueles que lá trabalham.
Manter uma
missão não é somente preencher um quadro com frases bonitas e de efeito, é
preciso ação. Voltando ao exemplo da IBM o autor Covey (2004, p.169), conta
como em uma de suas palestras no na IBM de Nova York havia um funcionário que
passou mal e foi levado ao melhor centro médico da região. Porém, como o mesmo
morava na Califórnia e sua mulher estava alarmada pelo fato de não ter o marido
perto, a IBM junto da família do colaborador decidiu mandá-lo de volta para
casa, reservando outro excelente hospital californiano. Os custos com alocação,
passagens, remédios, residência devem ter ultrapassado a faixa dos milhares de
dólares, mas a IBM acreditou na dignidade do individuo, mostrando que está bem
fixada no seu pilar.
O autor
Covey (2004, p.169), desmistifica o motivo do fracasso de algumas organizações.
Um dos problemas fundamentais das organizações é que as pessoas não comprometem
com as determinações que outras pessoas fazem para suas vidas. Elas
simplesmente aceitam para se medir a aderência de uma declaração de missão são
levantadas as seguintes perguntas:
- Quantas
pessoas aqui dentro sabem que vocês têm uma missão?
- Quantos
de vocês sabem o que ela contém?
- Quantos
de vocês estiveram envolvidos em sua criação?
- Quantos
de vocês realmente acreditam nela e a usam como quadro de referências ao tomar
decisões?
O autor
Covey (2004, p.169), continua sua análise sobre fatores de sucesso na aderência
da missão, desenvolvendo a seguinte frase: "Sem envolvimento não há
comprometimento. Podemos muito bem dar metas e uma missão aos colaboradores, se
acabaram de entrar na empresa, muito irão cumpri-la, porém quando as pessoas se
tornam mais maduras, elas desejam o envolvimento, o envolvimento significativo.
E se não o possuem (o envolvimento desejável), não aceitarão mais estas metas
impostas, criando um problema motivacional grave, a organização que deseja
colaboradores trabalhando com uma família vai precisar de tempo, paciência,
habilidade, envolvimento, coragem e a integridade para harmonizar sistemas,
estruturas e estilos de visão distintos, fundamentando estes em pilares (tais
como a IBM fez) criando uma cultura de valores verdadeiros".
Uma missão
organizacional que reflete os valores e a visão mais profundos compartilhados
por todos que pertencem à organização - cria uma grande unidade e um imenso
envolvimento. Gera na mente e no coração das pessoas um quadro de referências,
um conjunto de critérios e orientações, por meio dos quais eles poderão
governar suas vidas, em harmonia com o âmago imutável que caracteriza a
organização.
Sem uma
missão pessoal plenamente desenvolvida e constantemente utilizada o samurai
Musashi teria vivido e morrido como mais um medíocre espadachim de sua era, mas
ao adotar para si a missão de se aperfeiçoar continuamente, transcendeu,
superando obstáculos e indo além, no fundo a escada para o sucesso estava
dentro de sua própria mente.