terça-feira, 29 de março de 2011

O Mito dos Talentos

Sempre fui um entusiasta da valorização dos talentos.

Admiro as pessoas talentosas, sobretudo quando esses talentos servem para fazer o bem para os outros, para o mundo!

E admiro também aquelas pessoas visionárias, capazes de descobrir e reter profissionais talentosos para as suas organizações.

Se, por um lado, acredito que as competências podem e devem ser desenvolvidas, por outro, creio que o talento é algo que “vem de fábrica”.

Então, quando o assunto é talento, procuro não fazer uma hierarquia de dons, ou seja, acredito que o respeito ou a admiração pelo craque da bola, pelo bom artista, pelo sujeito que projeta uma catedral e por aquele indivíduo capaz de se integrar em plenitude com a natureza devem estar no mesmo patamar.

Penso assim porque entendo esses diferentes talentos como um resultado das múltiplas inteligências com que a espécie humana foi dotada.

Todavia, também entendo que para lidar com essa questão, especialmente no mundo corporativo, precisamos derrubar alguns mitos por trás desse conceito, afinal falar em desenvolver, despertar, reconhecer, atrair ou reter talentos virou moda. E em alguns casos, tornou-se banalizado, trazendo confusão, sobretudo para os futuros profissionais.

Dias atrás, conversando com um jovem promissor, estudante do 4º ano de engenharia da Unicamp, pude pensar e aprender um pouco mais sobre o assunto.

Como outros milhares de universitários, o meu jovem amigo se vê na dúvida com relação ao seu futuro profissional. O que fazer? Virar executivo de uma grande empresa ou abrir seu próprio negócio?

Por ter passado pelas mesmas dúvidas e já ter visto muita gente na mesma situação, tentei ajudá-lo com algumas considerações:

A primeira análise que precisamos fazer diante desse dilema envolve as perspectivas financeiras: Como executivo você pode ficar rico e ter uma vida segura e estável. Como empresário você pode ficar milionário ou até bilionário, mas precisa saber lidar com o risco de um dia ver a sua empresa falida.

A segunda é uma análise temporal das possibilidades: Você terá maiores probabilidades de se tornar um empresário de sucesso se começar a empreender mais cedo. Começar uma empresa na garagem de casa e transformá-la em um império é mais fácil para um jovem sem preocupações financeiras do que para um ex-executivo com uma despesa pessoal muito alta.

Explico melhor: Quando um jovem começa um negócio movido pela paixão e sem a preocupação de quanto vai ganhar com suas ideias, essa empresa fica mais livre para criar e possui uma maior tolerância com seus próprios erros. 

Isso é muito diferente de uma empresa que nasce precisando faturar R$ X,XX /mês para pagar os seus custos, gerar lucro e garantir ao empresário um pró-labore que vai pagar o plano de saúde da família, a escola dos filhos e todas as suas demais despesas pessoais.

E uma terceira análise, que para mim é a mais importante, é aquela que envolve competências e talentos…

O seu talento musical pode te levar a ser um milionário astro do rock. O seu talento com a bola nos pés pode fazer de você um craque do Barcelona, do Milan ou da Seleção Brasileira. O seu talento para pintura pode te levar às maiores galerias de arte do mundo.

Mas, para cada cantor de rock ou dupla sertaneja que alcança o sucesso, encontramos milhares de cantores e duplas tocando em bares e restaurantes para ganhar tão pouco. Para cada Ronaldinho Gaúcho ou Kaká existem milhares de jovens craques que jamais sequer se tornarão profissionais da bola. Para cada Picasso, existem diversos pintores que ficam nas praças públicas pintando o retrato das pessoas para ganhar a vida. E todos eles têm o seu talento.

O fato é que apesar de milhões de jovens demonstrarem talento com uma bola nos pés, até hoje só existiu um Pelé.

Por isso, se alguém pretende se tornar um profissional bem sucedido dependendo apenas do próprio talento, é bom que essa pessoa seja realmente muito diferenciada das demais, afinal o mundo (ou o mercado) já está saturado de quem simplesmente apresenta mais do mesmo.

Então, mesmo que você seja talentoso, dedique-se ao desenvolvimento de suas competências, afinal se o talento é capaz de abrir as portas, somente a competência é capaz de mantê-las abertas.

Além disso, se você tem um talento e quer usá-lo profissionalmente jamais se esqueça de usar a fórmula mágica: treine, treine e, ao final do treino, treine mais um pouco.

Pensando nas dúvidas do meu jovem amigo, e de tantos outros jovens que vivem a incerteza de seu futuro profissional, chego a conclusão de que como, cada vez mais, as competências necessárias aos executivos e aos  empreendedores estão mais parecidas, a solução desse dilema está em dois pontos básicos:

Primeiramente é preciso avaliar o que mais queremos e o que mais tememos na vida. Qual o valor pesa mais na sua balança, a sua independência ou a sua segurança? O que é mais assustador para você, ter que prestar contas a um chefe ou correr o risco de não ter dinheiro para pagar suas contas no final do mês?

Em segundo lugar, precisamos pensar nos nossos talentos pessoais. Onde terei mais possibilidades de transformar o meu talento em realização? Onde os meus dons serão melhores aproveitados?

E a melhor parte em tudo isso é saber que quando treinamos para transformar os nossos talentos em habilidades que nos diferenciam e quando fazemos das relações humanas uma escola para o desenvolvimento das nossas competências, quaisquer que sejam as nossas escolhas, elas sempre serão escritas a lápis, pois seremos sempre livres para mudar de percurso. Teremos sempre a opção de construirmos e reconstruirmos os nossos caminhos.

A isso eu chamo de Realização Profissional!

Um carinhoso abraço.

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