Estudo de universidades
americanas diz que o bem-estar depende de como gastamos o que temos e dá oito
dicas para o consumidor
Se você não está feliz
com seu dinheiro, provavelmente é porque não sabe gastá-lo.
A provocativa
afirmação é tema de um recente estudo realizado pelas Universidades de Harvard,
Virginia e British Columbia, nos Estados Unidos, que procurou traçar as
ligações entre consumo e felicidade.
Segundo a pesquisa, o conceito de
bem-estar não está relacionado com o tamanho de nossa riqueza, mas sim com a
forma como gastamos o que temos. “O dinheiro nos deixa alegres quando pensamos
nele, mas nem tanto quando o usamos. E isso não deveria acontecer”, afirma a
professora de psicologia Elizabeth Dunn, da British Columbia, responsável pelo
trabalho.
A compra imediata impulsiva de bens e serviços é apontada pela
pesquisadora como uma das principais causas da insatisfação dos consumidores
atuais. “Muitas pessoas esquecem ou não sabem que planejar, antecipar e desejar
são fatores essenciais para a felicidade”, explica.
Analisando o comportamento
de compradores de várias partes do mundo, a psicóloga americana e sua equipe
listaram oito dicas que podem ajudar você a ser mais feliz com seu
dinheiro.
1 - Comprar experiências e não coisas
O instrutor de artes marciais Alexei Caio, 35 anos, não tem tevê de plasma, computador de última geração nem móveis sofisticados. Mesmo assim, se considera uma pessoa plenamente feliz. “Prefiro gastar meu dinheiro em viagens do que com bens materiais”, declara. Todos os anos, Caio embarca em aventuras pela América Latina, fazendo caminhadas e conhecendo novos lugares.
“Experiências
proporcionam prazer em dobro, pois nos fazem felizes enquanto vivemos e,
depois, quando recordamos”, diz a professora Elizabeth Dunn, da British
Columbia.
Investir em cursos, viagens, jantares e programas de lazer são boas
maneiras de encontrar a satisfação pessoal. Além disso, experiências, mais do
que coisas, podem ser divididas com outras pessoas, uma fonte comprovada de
felicidade.
2 - Gastar com os outros
e não apenas com você
Tudo o que fazemos para estreitar nossas relações pessoais aumenta a felicidade. E isso inclui gastar dinheiro. Segundo o estudo, doar valores ou objetos ativa áreas do cérebro relacionadas à recompensa. Ou seja, comprar presentes para as pessoas que você ama, fazer caridade e ajudar familiares, se forem atos voluntários, aumentam o bem-estar.
3 - Investir em pequenos
prazeres
Se você tem dinheiro para gastar, é melhor comprar vários pequenos prazeres do que torrar tudo numa única aquisição. De acordo com a pesquisa, quando adquirimos algo de grande valor, temos uma satisfação momentânea, que diminui com o tempo. Compras menores, porém mais frequentes, garantem bem-estar constante.
A professora Mariane D’Ávila, 45 anos, aprendeu essa lição. “Já
cheguei a comprar 12 pares de sapatos de uma vez. Dizia: ‘Não gasto nunca,
então posso fazer extravagâncias’”, conta. Hoje Mariane trocou os impulsos
consumistas por sessões de massagem semanais. “Descobri que a felicidade está
muito mais relacionada à minha qualidade de vida do que às peças caras no meu
armário”, diz.
4 - Comprar sem pensar
em trocar
Como foi comprovado no estudo, a possibilidade de troca induz ao gasto por impulso, um dos principais motivos de insatisfação.
“Quando não precisamos nos
comprometer com uma aquisição, perdemos o interesse por ela. Aí, o outro
vestido que deixamos na loja parece mais bonito do que o que trouxemos para
casa”, exemplifica a pesquisadora Elizabeth.
5 - Pagar agora e usar
depois
O princípio é o oposto da política praticada pelas companhias de cartão de crédito, que estimulam os consumidores a comprarem agora e pagarem depois. Segundo os pesquisadores, é mais feliz quem consegue fugir dos parcelamentos e honra as compras à vista.
“Essa dica vale para uma economia em recessão como a
dos Estados Unidos, mas não para o Brasil”, afirma Fábio Mariano Borges,
professor de pós-graduação em ciências do consumo da Escola Superior de
Propaganda e Marketing (ESPM). “Aqui a explosão do consumo da classe C se deve
em grande parte à oferta de crédito, ou seja, ao parcelamento”, diz.
O conselho
de Borges para quem precisa financiar é colocar os gastos na ponta do lápis:
“Não comprometa mais do que 20% de sua renda com o financiamento.”
6 - Planejar também o pós-compra
Segundo o estudo, a felicidade está nos detalhes. Por isso, precisamos considerar todos os aspectos de uma nova aquisição antes de confirmá-la. Expectativas muito altas em relação ao produto, por exemplo, podem levar à decepção.
“Quando imaginamos como iremos incluir uma nova compra em nossa
rotina, temos mais chances de tirarmos satisfação dela”, diz Elizabeth.
Portanto, antes de pagar por um novo bem, temos que considerar quando vamos
utilizá-lo e como.
7 - Não procurar apenas
a melhor oferta
A pesquisa também sugere que, em muitos casos, economizar não significa garantia de felicidade.
“Ao comparar só o preço, podemos descartar produtos que
nos fariam felizes somente porque existem opções mais baratas”, afirma a
pesquisadora Elizabeth. Segundo ela, é necessário considerar o preço sim, mas
sem deixar de lado outras características, como durabilidade, praticidade e,
claro, qualidade.
8 - Ouvir a opinião dos
outros
Comprar algo apenas porque outras pessoas têm é um dos caminhos mais curtos para a infelicidade. No entanto, ouvir a opinião dos outros pode ajudar, e muito, na escolha daquilo que nos trará prazer.
“Um observador atento é capaz
de dizer que prato do restaurante nos fará mais felizes, apenas por identificar
nossas reações ao ler o cardápio”, exemplifica a professora Elizabeth, da
British Columbia. O professor Borges, da ESPM, concorda. Para ele, a internet
facilita a vida do consumidor, pois disponibiliza críticas de outros
compradores sobre qualquer tipo de bem ou serviço. “Consultar o julgamento
alheio já é uma prática comum do cliente, porém, com o acesso cada vez maior à
tecnologia, essa segunda opinião se torna mais procurada e legitimada”, diz.
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