“Eu
procrastino, tu procrastinas, ele procrastina…” É… o verbo procrastinar não é
mesmo dos mais fáceis de conjugar: tripudia com a língua. Mas a verdade é que,
por detrás da palavra de som desagradável e significado pouco conhecido, mora
uma expressão fácil, que todo mundo no Brasil já ouviu pelo menos uma vez na
vida. Procrastinar, afinal, nada mais é do que o famoso “empurrar com a
barriga”. Ou, para usar outro lugar-comum, a mania de deixar para amanhã o que
tinha tudo para ser feito hoje.
A forma verbal procrastinar quase sempre é confundida com a forma verbal
postergar, explica Airton Soares, professor da Universidade de Fortaleza e
autor de, entre outros livros, “O Mundo Fora de Esquadro”. A semelhança,
entretanto, é só aparente. “Ambas denotam o ato de preterir, mas não são
sinônimas. O procrastinador está sempre deixando as tarefas para o dia
seguinte, enquanto quem posterga deixa tudo para ser resolvido numa posteridade
indefinida”, explica.
No trabalho intitulado “O que é Procrastinação?”, o psicólogo clínico
português, Nuno Conceição, vai mais fundo. Procrastinar, define, implica em
deixar que as tarefas menos importantes antecipem as mais importantes: “Por
exemplo, socializar com os colegas quando temos um projeto para entregar na
próxima semana, ver televisão ou jogar computador em vez de estudar, falar de
coisas superficiais com a namorada em vez de aprofundar os assuntos e
preocupações relacionados com a relação, ou arrumar o quarto e organizar tudo
até ao mais ínfimo pormenor, mas não estudar”.
Adiar crônico é que se torna problema
Para o psicólogo comportamental dos EUA, Joseph Ferrari, autor do livro “Procrastination and Task Avoidance” (“Procrastinar e Adiar Tarefas”), “deixar uma coisa ou outra para amanhã é perfeitamente normal”.
Para o psicólogo comportamental dos EUA, Joseph Ferrari, autor do livro “Procrastination and Task Avoidance” (“Procrastinar e Adiar Tarefas”), “deixar uma coisa ou outra para amanhã é perfeitamente normal”.
O problema, ressalva, é quando a procrastinação vira comportamento
“crônico”, estilo de vida. “O procrastinador sempre tem uma desculpa pronta de
por que deixou tudo para a última hora”, explica.
O psicólogo português Nuno Conceição aborda as duras conseqüências que o
problema traz para a vida dos procrastinadores de carteirinha.
“Qualquer tipo de procrastinação envolve a decisão de adiar. Esta
decisão pode levar a um alívio temporário imediato, mas a médio ou longo prazo
pode conduzir a sentimentos de culpa, inadequação, autodepreciação, depressão,
incerteza, ansiedade….”
O psicólogo lança mão do conceito de inércia para dimensionar
adequadamente o fenômeno. Tendo em vista que uma massa em repouso tende a
permanecer assim, observa, “são necessárias mais forças para iniciar a mudança
do que para manter, o que convida ao adiamento do início das tarefas”. O adiar,
por sua vez, leva a uma sensação temporária de conforto, mas só temporária
porque logo torna-se ainda mais difícil agir no sentido inverso.
A boa notícia, enfatiza o psicólogo em “O que é Procrastinar?”, é que o
comportamento aprendido pode ser também desaprendido.
Depois de tomar consciência de sua existência, a pessoa vai
automaticamente, mas aos poucos, identificando de que são feitas e como se
relacionam cada uma das engrenagens usadas para protelar. Daí para a mudança, é
quase um pulo.
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