Paralelamente a todas as questões teóricas levantadas
sobre a liderança, ocorre no cotidiano corporativo uma série de desafios à
competência do líder que precisam ser considerados.
Em sua crítica ao livro "The Argument
Culture", que propõe a cultura norte americana como uma cultura de argumentação,
Jonathan Rauch (correspondente do The Atlantic e colunista
do National Journal) propõe uma interessante questão que deve ser
considerada por todos os profissionais que exercem a liderança: o
"agonismo".
A expressão comportamento agonístico deriva da
observação do comportamento no mundo animal caracterizado
por: agressão,defesa e evitação.
Estas três características do comportamento do mundo
animal não se restringem às questões meramente instintivas e a automatismos; no
homem, animal racional, estes comportamentos adquirem requinte e sutilezas
muito particulares.
Portanto, estes são três fatores de enorme relevância
para observarmos dentro do universo corporativo, onde vamos encontrar, em uma
grande parte das interações, as três atitudes mencionadas.
Estamos vivendo uma patologia
corporativa onde predomina o contato verbal meramente ritual. É comum
encontramos pessoas que, em um nítido automatismo comportamental, radicalizam
questões que permitem múltiplas abordagens a uma posição polarizada onde mais
que a solução, buscam a vitória do ego! Este comportamento, quando se
generaliza dentro de uma organização, dá origem ao agonismo corporativo.
Alta performance e excelência, para citar duas
questões-chave nas organizações modernas, pressupõem interações de
qualidade voltadas para resultados que interessem à organização e, não,
particularmente aos egos dos indivíduos isoladamente.
Uma enorme quantidade das interações diárias entre
profissionais acaba ocorrendo sob a esfera da agressão camuflada. A agressão
não precisa ser explícita ou escancarada, ela pode ocorrer de forma verbal ou
não-verbal: desconsiderar pontos de vista, não ouvir atentamente as pessoas,
subestimar sua inteligência e contribuições, interromper prematuramente suas
exposições, manter uma postura física ou expressão facial de superioridade são
algumas entre tantas poderosas formas de agressão.
Outras tantas interações se dão na esfera da defesa. As
pessoas, sob pressão, sentem-se continuamente ameaçadas e não suficientemente
adequadas. O ambiente extremamente competitivo e tenso faz com que o
número de vezes que as pessoas são expostas a elogios seja menor que o número
de vezes que recebem atitudes frias, indiferentes ou, simplesmente, de cobrança
e não valorização.
Isto as torna defensivas e sempre mais preocupadas com
as justificativas que terão que apresentar do que, verdadeiramente, com os
objetivos que têm por alcançar.
Nestas circunstâncias, tem início a evitação a
determinadas pessoas, tarefas, assuntos. Aos poucos, as pessoas deixam de dar
as contribuições que poderiam, e passam a preferir interações superficiais,
mascaradas por uma "política da boa vizinhança", que está longe,
longe mesmo, de agregar valor às pessoas, projetos e negócios por elas
desenvolvidos.
A agressão, mesmo quando não explícita; a defesa
desnecessária, e a evitação crônica, são sintomas claros que remetem a um
diagnóstico preciso: as lideranças estão falhando em uma de suas premissas
básicas que consiste, dentro da sociedade do conhecimento, em tornar o trabalho
uma fonte de prazer e de realização profissional e pessoal e, através
desta postura, adaptar as práticas organizacionais às constantes mudanças de
cenário. Cabe às lideranças o papel estratégico de estabelecer o clima e
atmosfera necessária para que ocorram as mudanças organizacionais, buscando
eliminar todas as barreiras que fortalecem a resistência à mudança, tão
característica do comportamento humano!
Se estas questões não forem vencidas estaremos
permitindo que o agonismo se instale e que as relações e interações entre
pessoas e talentos tornem-se meros rituais políticos, desprovidos de prazer e
autorrealização.
O grande desafio da liderança sempre foi e sempre será:
fazer com que cada um dê o melhor de si em proveito de todos!
E para que isso ocorra, não podemos permitir que as
interações empobreçam a ponto de serem apenas manifestações ou variações de
atitudes de agressão, defesa ou evitação.
Cuidar dos aspectos psicológicos e comportamentais
envolvidos nos relacionamentos profissionais equivale a investir na obtenção
dos melhores resultados que as pessoas podem propiciar ao negócio.
Por Carlos Hilsdorf